Luz, câmera e mulheres em ação
"Miga, é sério, vamos fazer o teste". Karol cursa Cinema e Audiovisual comigo, em uma Universidade Federal. Ela me disse isso e correu para o notebook. Vimos, em um site, o chamado "teste Bechdel". É assim: você assiste um filme e faz três perguntas sobre ele. 1) Há mais de uma mulher com falas? 2) Essas mulheres conversam entre si? 3) O assunto da conversa é algo além de um homem?
Gente, é sério. São pouquíssimos os filmes que passam nesse teste! Chocadas, começamos a debater sobre o porquê da mulher ser retratada tão cheia de estereótipos e insignificância nos longas. E chegamos a uma conclusão: o machismo está colado com o cinema.
Segundo um estudo feito pela San Diego State University, apenas 7% dos 250 filmes de maior bilheteria nos EUA, em 2016, foram dirigidos por mulheres. As mulheres representaram, nesses filmes, 24% dos produtores, 17% dos montadores, 17% dos produtores executivos, 13% dos roteiristas e 5% dos diretores de fotografia.
Eu estudo Cinema e Audiovisual. Eu sou mulher. Eu tenho 7% de representatividade no cinema Hollywoodiano. Quê? Resolvemos ir mais longe. Será que nos cursos de cinema essa desigualdade entre gêneros já existe?
Carolina Campista, estudante de Cinema da UFES, me contou que sim. "Já passei por várias situações em que me senti diminuída apenas por ser mulher, e talvez por ser uma mulher negra. Recentemente participei de uma produção em que as equipes eram majoritariamente masculinas, quase todos os diretores de função eram homens, eu era a única mulher diretora solo da equipe de arte. Eu passei por alguns constrangimentos na pré produção até perceber as atitudes machistas", falou.
Nina Avancini, também estudante de Cinema, concordou. "Constantemente mulheres são interrompidas por homens na sala de aula, professores soltam frases machistas e, apesar de haver muitas estudiosas nesse campo, alguns docentes não se preocupam em colocar nem uma mulher na bibliografia. Em produções acadêmicas são eles que ocupam a maioria dos espaços de direção", contou.
Produzir filmes e ser mulher tá complicado, gente! Quanto mais perguntava para as mulheres do curso sobre isso, mais recebia depoimentos de situações constrangedoras sofridas por elas. A Nina, que está dirigindo um filme (e a maioria da equipe é feminina), desabafou: "Quando uma mulher dirige alguma função num filme, ela precisa provar o tempo inteiro que ela está fazendo algo bom suficiente, sendo duvidada e questionada de suas escolhas".
"Mulher tem que trabalhar em arte, porque entende de decoração"; "Mulher faz bem produção porque é organizada e sabe cozinhar"; "Mulher dirigindo sempre dá confusão". As meninas escutam isso todos os dias. Escutadas, raramente são. Nem na academia, nem nos curtas da faculdade. Representatividade? Cadê?
Por isso, galera, que tal valorizar mais as cineastas mulheres espalhadas pelo mundão? As meninas dividiram com a gente as mulheres arrasadoras que são referência, para elas, dentro do cinema. Saca só:
Shonda Rhimes: cineasta, roteirista e produtora. É roteirista de Grey's Anatomy, How to get Away with Murder, Scandal, entre outros. Rainha, né?
Petra Costa: dirigiu dois documentários maravilhosos, Elena e Olmo e a Gaivota. Tá ganhando muito destaque no cinema brasileiro!
Adélia Sampaio: diretora negra importantíssima na história do cinema brasileiro. Dirigiu o filme Amor Maldito. Vale muito a pena!
Sofia Coppola: um dos grandes nomes do cinema! Ela arrasa como diretora, roteirista e produtora. Fez grandes filmes como O Estranho que nós Amamos e Maria Antonieta.
Lilly e Lana Wachowski: as irmãs Wachowski são responsáveis pela trilogia Matrix e, recentemente, pela série Sense8. Quem não ama?
Anna Muylaert: destaque do cinema brasileiro, a Anna dirigiu Que Horas ela Volta? e Durval Discos. Se você não viu, corre pra assistir que é incrível!
Lucrecia Martel: diretora e roteirista argentina, dirigiu A Mulher sem Cabeça. Filmaço!
Que rainhas, manas! E você? Quais as suas diretoras favoritas? Conta pra gente!