top of page

Não quero um príncipe.




Sentada diante da tela do computador, deparei-me com uma dificuldade enorme de escrever qualquer coisa. Recorro ao velho clichê de ser o mais honesta possível e avisar, antes de mais nada, que não sei bem o que dizer.

Liguei para o meu namorado, Alessandro, e pedi uma ideia. Ele brincou: escreve sobre a gente. Sabe o que lembrei? Quantas dezenas de crônicas sobre relacionamento já li na minha vida! Clássicas das revistas para jovens, penso que talvez seja a hora de me aventurar a falar de amor.

Falei com as meninas. Logo, começamos a relembrar algumas referências de revistas femininas para jovens. Eu, no auge dos meus 12 anos, era uma leitora assídua de todas as "revistas de menina" da época. Todas nós éramos. Todas as garotas eram.

Imediatamente, lembramos de como as matérias sobre relacionamentos enchiam as revistas em editorias diferentes. Dicas de como agir pra conquistar o cara dos seus sonhos, como namorar, o que fazer, o que falar, o que os meninos pensam sobre as meninas (e até a parte sobre sexo que líamos escondidas). E eu, na minha primeira experiência adolescente de gostar de alguém, seguia como tutorial aquelas matérias. Lia as revistas periodicamente e compartilhava com as amigas.

Me coloco, hoje, no lugar das redatoras das revistas de minha época. Acompanhamos gerações, é claro. E, na minha, agora, diria coisas muito diferentes para meu eu adolescente. Porque nos contam certas coisas sobre namoro que não são verdade. E criam expectativas e temores que não são reais.

Me ensinaram, quando adolescente, que o amor era coisa que devíamos lutar para ter. Meu príncipe encantado viria cheio de defeitos e nosso amor, apesar das dificuldades, das diferenças, superaria tudo. Para isso, eu deveria seguir um padrão de como me vestir e portar, e, assim, seria interessante o suficiente para os meninos. Por muito tempo, sonhei com meu amor pelo qual tudo valeria a pena para que, no fim, fossemos felizes para sempre.

Pensando bem nas histórias de princesa, me fale qual não lutou pelo amor. Pense na Cinderela e nas horas presas no castelo até que, enfim, fosse encontrada. Ou Rapunzel, que passara anos dormindo até ser salva. Não preciso nem falar da Branca de Neve. Achava lindo o amor dessas histórias.

Quando comecei a namorar, descobri que as princesas nunca conheciam o que era o amor. Prepotente da minha parte, eu sei. Mas a Branca de Neve nunca conhecera bem seu príncipe. Nunca fizeram torta de maça juntos ou passearam pelo bosque. Nunca fizeram duetos acompanhados dos pássaros nem dançaram uma música. Nunca foram à cafeteria ou tiveram um beijo roubado no cinema e não ficaram nervosos por conhecer a família do outro.As princesas, ao contrario do que pensava, não construíram o amor. Elas abriam os olhos e se apaixonavam. E eu, que torcia para esbarrar com alguém na rua e me apaixonar, descobri que o amor se constrói aos poucos. Um amor sem dor, sem brigas constantes, sem sacrifícios. Desde quando o amor exige sacrifícios?


Aprendemos a romantizar a dor do amor, o ciúmes constante, o apego, a luta, o deixar de ser você para adaptar-se ao outro. Aprendemos a amar as princesas e seus príncipes e seus amores de piscar de olhos. Aprendemos a suportar tudo, o que dá abertura para tantas meninas que não conseguem sair de relacionamentos abusivos. E a nos contentar com qualquer um, para não ficarmos sozinhas.


Aprendemos que nós, mulheres, devemos nos submeter aos nossos namorados para que eles não terminem com a gente. E, nisso, a gente não enxerga que amor é pra ser parceiro, aliado, de igual para igual. E que nós devemos ser nós mesmas, acima de tudo, sem se transformar em algo para agradar alguém.


Aprendi tantas coisas erradas que demorei 7 meses para aceitar o pedido de namoro do Alessandro por medo do que seria isso. E também tive medo de me entregar ao amor. E sabe de uma coisa? Namoro não é difícil (embora tenha os seus momentos de dificuldades). Namoro é muito bom, quando a gente constrói uma parceria de verdade.


Depois de tantos anos, eu entendi: não quero o amor de princesa. Quero o amor de quem me aceita.


FOLLOW ME

  • Black Facebook Icon
  • Black Twitter Icon
  • Black Instagram Icon
  • Black Pinterest Icon
  • Black YouTube Icon

STAY UPDATED

POPULAR POSTS

TAGS

Nenhum tag.
bottom of page