Sobrevivo mais 20 anos?

Durante algumas noites de insônia ou momentos de angústia, sinto como se meu "dom" para aliviar minha alma através das palavras estivesse me escapando através dos dedos, e eu já não sei como se faz isso. Minha cabeça entra em pane. Parece que tudo o que eu sinto não faz mais parte dos papéis, não encaixa nas frases, nenhuma vírgula ou ponto final representa mais a minha realidade. Como se tivesse sido espremido tanto dentro de mim, que não é mais possível colocar para fora. "Não tenho mais tempo para me dedicar a mim mesma, preciso enviar alguns currículos, terminar os trabalhos da faculdade e cuidar das tarefas de casa." - Penso. Aí o desespero começa. É uma bagunça isso aqui. Será que da pra alguém ajudar, por favor? Preciso colocar em ordem. Não sei mais o que é importante e o que é só desordem. A antiga frase "entendo minha própria bagunça" não se encaixa mais aqui. Socorro. Eu vou surtar. Preciso acordar cedo e arrumar motivação para ir a aula amanhã. Ainda! Vivo essa rotina a 20 anos. Céus. Será que eu fui feita pra aguentar tanto? Não dá pra descansar por alguns meses? Depois eu juro tentar reagir. - Ei! Como vai o estágio? - Ah, eu sai! Mas tudo bem, já era hora. - Poxa. Já está procurando outro? Não dá pra ficar parada, né? E sem dinheiro então?! Sem chances! Boa sorte. Por que não dá pra ficar parada? O que tem demais em não forçar o meu corpo mais do que ele consegue aguentar? Por que me sinto culpada em tirar 2 horinhas de cochilo depois do almoço? Isso deveria ser assim, mesmo? O que houve com o bem estar e o lazer? As pessoas deram preferência por ganhar mais dinheiro e se esqueceram que devem ser felizes? Meu Deus. Se fosse uma opção, pediria para não fazer parte disso. Vejo crianças nascendo, fico aflita. Durante minha infância os adultos já trabalhavam demais. Mas eu aproveitei um pouco pra ralar os joelhos. E essa geração de agora? Já nasceram sabendo como funcionam as máquinas que as farão escravas daqui uns anos. Podemos pedir para que alguém assine outra lei áurea? Meus filhos vão saber o que é brincar na terra e sentir o gosto da chuva sem temerem um resfriado? Gostaria, de verdade, de ter respostas para essas perguntas. Vamos nos deixar viver sem ter prazer na vida, até que nossos corpos já não aguentem mais e se desfaleçam, ou vamos esperar a geração futura criar drogas cada vez mais fortes que nos façam aguentar um pouquinho mais? Tic tac. Tic, Tac.